Olá,
Hoje gostaria de compartilhar com vocês minha primeira crônica publicada em jornal. Ela saiu na edição do Jornal de Hoje de quinta-feira, 02 de junho. Não divulguei aqui no blog quando ela seria publicada, pois nem eu mesmo sabia quando isso iria acontecer (apenas no dia seguinte é que tomei conhecimento do fato). Na verdade, eu não estava muito esperançoso de que isso viesse a ocorrer, já que eu fora avisado de que a seção de opinião do referido jornal era muito concorrida. No final, porém, tudo correu bem e o texto foi publicado, e eu o transcrevo aqui na íntegra. O leitor habitual do blog observará que a crônica é o reaproveitamento da ideia de um dos posts anteriores que, digamos assim, fez um certo sucesso entre os leitores. Espero que gostem.
Traição na Cidade do Sol
Este relacionamento é conhecido por todos nós. Eles formam um casal de noivos apaixonados. Estão nessa relação há um bom tempo, mas o casamento teima em não acontecer. O noivo é impetuoso, apaixonado e ciumento: quer estar sempre junto de sua noiva. A noiva, por seu turno, apesar de também apaixonada, é, digamos assim, mais moderna, o que é evidenciado – todos os anos, em maior ou menor grau – durante esta época. Ela tem uma amante. Isso mesmo: uma amante! Antes, porém, que vocês tirem conclusões precipitadas, tachando a noiva de sem-vergonha, faz-se necessário apresentar adequadamente os envolvidos nesse triângulo.
A noiva em questão é Natal – a Noiva do Sol – a nossa ensolarada cidade; o noivo, como já ficou explícito, é o astro rei; e a amante é a chuva. Isso posto, vocês hão de concordar que este ano a noiva andou se encontrando bastante com a sua amante. Muitos desses encontros foram intensos, até fins de semana inteiros as amantes passaram juntas. E esses encontros não ficaram restritos à confidencialidade da alcova: pelo contrário, foram escancarados e todos nós fomos testemunhas oculares deles.
O problema com esse affair entre a cidade e a chuva é que a noiva parece não estar ciente de que ele lhe faz mais mal do que bem. Explico-me: todos (talvez nem todos, mas pelo menos uma boa parte de nós) gostamos quando Natal passa um, ou alguns dias, sem se encontrar com o seu noivo. Afinal, os encontros entre eles costumam ser tão tórridos que geram um calor, por vezes, insuportável. Todavia, já estamos acostumados com isso e tomamos alguns cuidados – como aumentar a quantidade de água ingerida, não descuidar do uso do protetor solar, entre outros – a fim de não nos prejudicarmos com esse noivado. No entanto, os encontros tórridos (se é que se pode chamá-los assim) entre Natal e a chuva costumam trazer consequências negativas para a noiva: ruas alagadas, o que favorece a proliferação de doenças, e inclusive a reprodução do famigerado aedes aegypti; e também esburacadas, o que pode causar acidentes e danificar os veículos que nelas trafegam; trânsito lento e congestionado, restringindo nosso direito de ir e vir; e outras dificuldades mais.
O pior é que o poder público não se dá conta de que o romance entre a noiva e sua amante ocorre todos os anos e pouco faz para minimizar os danos resultantes desse caso. Prefere, antes, torcer para que no ano seguinte a noiva seja mais fiel ao seu noivo do que no anterior. Mas quem também não prefere uma noiva fiel? Parece que a nossa querida cidade não nasceu mesmo para fazer parte de uma relação moderna como essa e deva viver monogamicamente. Mas quem sou eu para julgá-la?
P.S.: Se gostaram, ou não, comentem!
"O pior é que o poder público não se dá conta de que o romance entre a noiva e sua amante ocorre todos os anos"... O jeito é fazer uma crônica... rs
ResponderExcluirC. Carvalho
Desculpe pelo atraso no comentário, mas é que só agora li. Amei essa crônica e parabéns pela publicação, espero que tenha mais oportunidades para publicar suas palavras, você merece!
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