segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Que deselegante!


Vocês já pararam para pensar na velocidade com que alguns bordões se espalham nesses tempos de Internet? O mais interessante, porém, é que os que fazem mais sucesso na boca e nas teclas do povo são aqueles que não se originaram online: foram coletados da fala de algum famoso, geralmente dando uma entrevista ou mesmo em seu próprio programa de TV. O certo é que se não fossem transpostos para o mundo virtual não teriam se tornado bordões, talvez nem fossem (tão) comentados. Eu, particularmente, gosto muito de bordões, de clichês, de ditados populares e faço uso deles sempre que posso (claro que principalmente na fala informal; na escrita, só quando o gênero o permite). Hoje vou comentar apenas três que fizeram/fazem muito sucesso. Vamos a eles, por ordem cronológica.
Aham, Cláudia senta lá! Esse foi garimpado bem fundo: remonta ao já longínquo ano de 1986 (creio eu, pois estou com preguiça de procurar o ano correto). Vemos uma apresentadora Xuxa em início de carreira na extinta TV Manchete, tentando domar um bando de “baixinhos” que insistia em não se sentar após (ao que parece) ter participado de uma brincadeira. Pouco a pouco, eles vão retornando aos seus lugares com exceção de quem? Da Cláudia (óbvio). Xuxa, então, usa essa já antológica frase. Não sei como descobriram isso, mas o negócio se espalhou como fogo pela Internet e ainda hoje, depois de mais de dois anos, depois de iniciado, o movimento Aham, Cláudia senta lá ganha adeptos, seja na TV, seja nas redes sociais. Todavia, uma coisa é certa: a pobre da Cláudia (assim como muita gente) ainda não encontrou seu lugar para sentar.
Hoje é dia de rock, bebê. Bem mais recente, esse bordão foi introduzido por uma esfuziante Tereza Cristina Buarque Siqueira de Velmont (ops!, a atriz Christiane Torloni) em entrevista a uma repórter do canal a cabo Multishow, durante o Rock in Rio deste ano. Aparentemente alcoolizada (ou doidona, diziam as más línguas), ao ser perguntada sobre o show da cantora americana Katy Perry, saiu-se com essa. O bordão foi bastante divulgado no Twitter, entrando nos Trending Topics daqueles dias, e ganhando variações: é só substituir a palavra rock da frase por qualquer outra, como em Hoje é dia de balada, bebê!, Hoje é dia de lavar roupa, bebê!, Hoje é dia de prova de matemática, bebê! etc. Todavia, parece que o que fez a alegria de muita gente trouxe consequências desfavoráveis para a sua autora, que perdeu alguns trabalhos porque sua imagem ficou um tanto desgastada depois do episódio (quem quiser saber mais, pesquise na Internet, já que este não é um blogue de fofocas).
E last but no least temos o meu favorito e que nomeia o post: Que deselegante! Na semana passada, quando tentava informar aos telespectadores sobre o início do tratamento do ex-presidente Lula contra um câncer na laringe, no Jornal Hoje da TV Globo, a repórter Monalisa Perrone foi surpreendida por dois homens que a derrubaram e pretendiam assumir o controle da transmissão. Esta, por sua vez, foi imediatamente interrompida, com as câmeras focando os apresentadores atônitos no estúdio, e eis que Sandra Annenberg, do alto de sua elegância, revelando toda a sua indignação e revolta com a sua colega de profissão, profere a famigerada frase. O episódio tem feito sucesso desde então e, como o bordão anterior, foi parar nos Trending Topics do Twitter. A partir daí, as pessoas ganharam uma expressão muito educada (de prestígio até) para ser usada naqueles momentos em que antes o esperado era sempre um palavrão ou uma expressão de “gente diferenciada”.
Qual será o novo bordão da semana? Que frase será pronunciada/teclada por nós exaustivamente a ponto de se tornar tendência? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

P.S. 1: Gostou? Não gostou? Conhece algum outro bordão famoso da web? Comente.
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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Fazer aquilo que você sabe e de que gosta...


Olá pessoal!

Quanto tempo, hein? Desde 24 de junho (já são mais de quatro meses) que não apareço por aqui. Por um tempo até achei que não iria postar mais nada por causa dessa vida um tanto atribulada que levo (se quer saber tudo o que faço, consulte o primeiro post do blogue – sim, essa palavra já consta da nova edição do Aurelião), e também nunca mais haviam aparecido umas palavras aí para compartilhar com vocês. Fiquei feliz, porém, quando acessei o blogue hoje e vi que já havia mais 1000 visualizações de página. Da última vez que estive por aqui, por assim dizer, acho que o contador ainda estava na casa das 900 visualizações. Isso é sinal de que alguém, talvez por vontade de ler algo novo ou simplesmente por falta do que fazer, andou aparecendo. De qualquer forma, here we are again. Deixemos de enrolação e vamos aos finalmentes.
Ontem fui ao cinema ver o ótimo O palhaço (ao qual recomendo), e tive alguns insights. Em certa passagem do filme, Benjamin (papel de Selton Mello, também diretor do longa), palhaço em um circo mambembe de propriedade de seu pai (Paulo José), em uma crise existencial – não tem muita certeza se fazer os outros rirem é o que ele quer para si –, decide deixar o circo em busca de uma vida, digamos assim, normal (não pretendo fazer uma resenha do filme aqui, apenas quero chegar aonde me interessa). Ele sai do circo, e depois acaba descobrindo que realmente gostava do seu trabalho no circo.
O que chamou a atenção foi uma fala de seu pai (redizendo algo que ouvira antes) que na vida nós devemos fazer aquilo que sabemos (e de que gostamos). Às vezes é necessário que deixemos de fazer o que fazemos bem por um momento, a fim de sabermos se estamos no caminho certo, se é realmente isso que queremos fazer (e isso pode ser aplicado a várias áreas das nossas vidas). Outras vezes, precisamos descobrir qual é a nossa motivação. Quando, porém, encontramos a resposta, nos sentimos bem e passamos a desempenhar o nosso papel com uma alegria. Em uma de suas últimas cenas, Benjamin diz: “O gato bebe leite, o rato come queijo e eu... sou um palhaço”. A essa altura, ele já havia encontrado o seu lugar no mundo.
Ainda não estou bem certo com relação a outras coisas da vida, mas no que se refere ao blogue, sei que gosto de escrever, acho que faço isso bem (pelo menos até o momento não recebi nenhuma reclamação quanto a isso), e pretendo continuar por aqui por mais algum tempo (ah, mas relevem os meus sumiços, porque já antevejo muito trabalho para as próximas semanas. Quando der apareço novamente).

Uns abraços aí e até a próxima!



sexta-feira, 24 de junho de 2011

Fim de semestre




Todo fim de semestre parece que é a mesma coisa, pelo menos para nós, professores: trabalho, trabalho, trabalho. Uma aluna minha, que também é professora, estava tão desesperançosa com o fim do semestre que afirmou em uma rede social que achava mais fácil chegar primeiro 23 de dezembro do que 23 de junho, o mais recente feriado. Reconheço que quase cheguei a concordar com ela. Mas o feriado chegou, passou, o semestre ainda não acabou, porém,  e, por isso, e ainda tenho que lidar com as seguintes questões: pilhas de trabalho para corrigir, alunos querendo saber as notas para enfim se verem livres do professor, ou não, naquele semestre (a recíproca também pode ser verdadeira), diários de classe para preencher... Gostaria de conhecer apenas um/a professor/a que sentisse prazer em realizar essa tarefa. Passaria imediatamente os meus para ele/ela. Ah, nossos desejos às vezes são tão prosaicos, não acham? 

Antes que alguém possa pensar que estou usando esse espaço para desabafar, para reclamar ou outros verbos sinônimos, respondo prontamente que não (mesmo que fosse o caso, não haveria problema algum, já que esse é para é para dizer o "der na telha" mesmo, como afirmei no primeiro tópico do blog. Lembram dele?). O que realmente me preocupa é que, devido a tantas tarefas (e eu nem estou elencando as do doutorado...), até as ideias para os posts escassearam. Nunca mais apareceu uma ideota para um conto ou uma crônica... Talvez até tenham aparecido, mas se perderam no meio do caminho. Devem ter encontrado a pedra de Drummond, ou melhor, tropeçado nela.

Todavia, não é isso que me fará desistir deste espaço. Tenho responsabilidades com todos os meus vinte e sete seguidores (escrevo por extenso para o número parecer maior) e quiçá mais uma vintena (essa palavra existe mesmo, viu? Eu chequei: está na língua desde, pelo menos, 1282) de outros leitores.

Assim, continuamos por aqui, ou por aí. E, enquanto não começa mais um semestre, vou tentando postar alguns contos, crônicas, ou seja, umas palavras aí... E que venham as férias!

P.S.: Como foi/está sendo o fim do semestre para vocês? Comentem!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Crônica publicada






Olá,

Hoje gostaria de compartilhar com vocês minha primeira crônica publicada em jornal. Ela saiu na edição do Jornal de Hoje de quinta-feira, 02 de junho. Não divulguei aqui no blog quando ela seria publicada, pois nem eu mesmo sabia quando isso iria acontecer (apenas no dia seguinte é que tomei conhecimento do fato). Na verdade, eu não estava muito esperançoso de que isso viesse a ocorrer, já que eu fora avisado de que a seção de opinião do referido jornal era muito concorrida. No final, porém, tudo correu bem e o texto foi publicado, e eu o transcrevo aqui na íntegra. O leitor habitual do blog observará que a crônica é o reaproveitamento da ideia de um dos posts anteriores que, digamos assim, fez um certo sucesso entre os leitores. Espero que gostem.

Traição na Cidade do Sol

Este relacionamento é conhecido por todos nós. Eles formam um casal de noivos apaixonados. Estão nessa relação há um bom tempo, mas o casamento teima em não acontecer. O noivo é impetuoso, apaixonado e ciumento: quer estar sempre junto de sua noiva. A noiva, por seu turno, apesar de também apaixonada, é, digamos assim, mais moderna, o que é evidenciado – todos os anos, em maior ou menor grau – durante esta época. Ela tem uma amante. Isso mesmo: uma amante! Antes, porém, que vocês tirem conclusões precipitadas, tachando a noiva de sem-vergonha, faz-se necessário apresentar adequadamente os envolvidos nesse triângulo.
A noiva em questão é Natal – a Noiva do Sol – a nossa ensolarada cidade; o noivo, como já ficou explícito, é o astro rei; e a amante é a chuva. Isso posto, vocês hão de concordar que este ano a noiva andou se encontrando bastante com a sua amante. Muitos desses encontros foram intensos, até fins de semana inteiros as amantes passaram juntas. E esses encontros não ficaram restritos à confidencialidade da alcova: pelo contrário, foram escancarados e todos nós fomos testemunhas oculares deles.
O problema com esse affair entre a cidade e a chuva é que a noiva parece não estar ciente de que ele lhe faz mais mal do que bem. Explico-me: todos (talvez nem todos, mas pelo menos uma boa parte de nós) gostamos quando Natal passa um, ou alguns dias, sem se encontrar com o seu noivo. Afinal, os encontros entre eles costumam ser tão tórridos que geram um calor, por vezes, insuportável. Todavia, já estamos acostumados com isso e tomamos alguns cuidados – como aumentar a quantidade de água ingerida, não descuidar do uso do protetor solar, entre outros – a fim de não nos prejudicarmos com esse noivado. No entanto, os encontros tórridos (se é que se pode chamá-los assim) entre Natal e a chuva costumam trazer consequências negativas para a noiva: ruas alagadas, o que favorece a proliferação de doenças, e inclusive a reprodução do famigerado aedes aegypti; e também esburacadas, o que pode causar acidentes e danificar os veículos que nelas trafegam; trânsito lento e congestionado, restringindo nosso direito de ir e vir; e outras dificuldades mais.
O pior é que o poder público não se dá conta de que o romance entre a noiva e sua amante ocorre todos os anos e pouco faz para minimizar os danos resultantes desse caso. Prefere, antes, torcer para que no ano seguinte a noiva seja mais fiel ao seu noivo do que no anterior. Mas quem também não prefere uma noiva fiel? Parece que a nossa querida cidade não nasceu mesmo para fazer parte de uma relação moderna como essa e deva viver monogamicamente. Mas quem sou eu para julgá-la?

P.S.: Se gostaram, ou não, comentem!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Enquadrado pela Lei...





Olá pessoal,

Já faz algumas semanas (16 dias, na verdade) que não posto nada de novo. Isso é, em parte, culpa das minhas muitas atribuições. Até tive algumas ideias para novos microcontos, que, infelizmente não se concretizaram (pelo menos até agora), por falta de tempo (ou talvez pela má administração dele)... Enfim, o fato é que acho que acabei sendo vítima da tal lei que nomeia o post  (a qual também passei a conhecer hoje).

Para quem acha que andei infringindo a lei, e por isso estive impossibilitando de atualizar o blog, não se preocupe, pois não cometi qualquer infração: a lei à qual estou me referindo é a chamada de Lei de Hofstadter (que, apesar do nome, não tem nada a ver com o personagem de uma conhecida sitcom americana). Trata-se de uma ironia em administração, criada pelo acadêmico norte-americano Douglas Hofstadter, e que afirma que "é sempre necessário mais tempo que o previsto, mesmo quando se segue a Lei de Hofstadter". Isso significa que quando temos de realizar uma determinada tarefa, especialmente quando a realizamos pela primeira vez, tendemos a calcular mal o tempo que levaremos para completá-la. No fim das contas, gastamos mais tempo do que o esperado (e desejado) para o cumprimento da tarefa em questão.

Tal fato aconteceu comigo. Fui muito otimista no cálculo do tempo que gastaria para executar determinadas tarefas (inclusive a quase escrita de um novo conto) e o resultado vocês já sabem: mais de duas semanas sem aparecer (se é que é possível utilizar esse verbo neste contexto) por aqui.

Acho que aprendi (ou não) a lição. Da próxima vez, tentarei seguir a Lei, para não ser enquadrado por ela. Até a próxima (que espero que não seja muito distante)!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Novo microconto

Olá,

Passei mais de uma semana sem postar nada aqui, devido às muitas ocupações da semana passada. Vida de doutorando que trabalha não é nada fácil... Compenso a ausência da semana com mais um microconto. Espero que gostem.

O escorpião


Enquanto terminava de empacotar seus pertences, ele não deixava de pensar no alívio que era mudar-se dali. Morava ali há mais de um ano, que, por sinal, custou muito a passar. Lembrou-se também de como fora parar ali: a emoção de sair da casa paterna, de ter o seu próprio espaço (ainda que alugado), de fazer seus próprios horários sem dever satisfação a ninguém.
Escolhera aquela casa (talvez a palavra não seja exatamente adequada para descrever aquele ambiente: uma minúscula sala de estar; um quarto pequeno, onde competiam, em busca de espaço, uma cama de solteiro, um guarda-roupa e uma pequena estante na qual ficava a TV; uma microcozinha e um banheiro) por uma confluência de fatores: ela ficava próxima do trabalho, ao qual poderia ir caminhando todos os dias; também se localizava a um pulo da faculdade, aonde também iria a pé, beneficiando-se duplamente – faria exercícios regularmente ao mesmo tempo em que economizaria dinheiro com transporte, afinal, seu salário não era lá grande coisa; e era o imóvel com o aluguel mais barato dentre os que ele visitara anteriormente.
Entretanto, a vida não é feita apenas de vantagens e benefícios, é cheia de reveses também. Ao lado do seu lar doce lar, havia um terreno onde supostamente seria construído um prédio residencial, mas no qual, desde o momento em que fora morar lá até o dia em que saíra, havia apenas muito entulho, os restos mortais das casas que outrora existiram ali, o que favorecia o aparecimento de animais peçonhentos como cobras, aranhas e escorpiões. Ele, por sua vez, tinha uma verdadeira fobia desses animais. Não conseguia ficar no mesmo ambiente em que houvesse um deles. Por isso, nunca visitava o primo que tinha uma aranha-caranguejeira de estimação e também mudava de canal sempre que aparecia um desses bichos horríveis na televisão. Assim, foi muito difícil para ele lidar com o que ocorreu na segunda noite após a sua mudança para aquela casa.
Ao entrar em casa, após a volta da faculdade, foi à cozinha, como de costume, beber um pouco de água. Depois se dirigiu ao banheiro, a fim de satisfazer uma de suas necessidades fisiológicas. Quando acendeu a lâmpada, seu sangue praticamente congelou nas veias: uma enorme aranha, negra e peluda, passeava despreocupadamente sobre o vaso sanitário. Ele, então, afasta-se rapidamente da porta, dá meia-volta e sai quase correndo de casa. E agora? O que faria? Como iria resolver aquele problema? Não podia pedir ajuda aos vizinhos, pois, além de não conhecer ninguém nas redondezas, seria muito humilhante se ele, homem-feito e independente, não conseguisse matar uma simples – talvez não tão simples – aranha. Poderiam caçoar dele pelo resto da vida.
Parou um pouco para refletir, respirou fundo e entrou novamente em casa. Dessa vez, extremamente cauteloso, foi até a cozinha, pegou uma vassoura, e rumou, pé ante pé, para o banheiro, tal qual São Jorge, determinado a aniquilar aquele dragão. Enquanto entrava, bradava em pensamento: É você ou eu. Apenas um de nós sairá vivo daqui. Depois de um embate trabalhoso, atrapalhado e, praticamente, sangrento (dentre outros adjetivos que não é lícito mencionar), conseguiu exterminar aquela besta-fera. Livrou-se dos seus restos mortais e trancou-se no quarto, porém não conseguiu dormir naquela noite.
Na semana seguinte, quando voltava novamente da faculdade, deparou-se com um escorpião no mesmo local. Por que esses bichos só inventam de aparecer aqui à noite e justo no banheiro? E justamente na hora mais imprópria? – lamentava consigo. Escorpiões causavam-lhe ainda mais pavor do que aranhas, e esse, em particular, apesar de seu diminuto tamanho (apenas 5cm de comprimento), proporcionou-lhe um combate deveras mais acirrado, pois misturavam-se nele um medo e uma fúria colossais. Além disso, seu oponente era bem ágil e toda vez que se aproximava dele um calafrio descia-lhe pela espinha. Depois de mais de 20 minutos, ergue, enfim (com o auxílio de uma pá), o cadáver do seu inimigo. Corre para o quarto, atira-se sob os lençóis, e dorme, esquecendo-se de que precisava ir ao banheiro.
O tempo foi passando, e os visitantes indesejados tornaram-se habitués. Quase toda semana, encontrava uma aranha ou um escorpião ou uma cobra (esta menos frequente, mas ainda presente), sem falar nas baratas e ratos. Esses outros habitantes fizeram-lhe rapidamente querer se mudar dali. Então, sempre que ficava sabendo de alguma casa ou apartamento disponível para aluguel no bairro, corria até o referido imóvel. O aluguel da maioria deles, contudo, ficava em uma faixa de preço acima do que ele poderia pagar. Alguns já estavam alugados quando ele os ia conhecer. Voltava desanimado para casa, pensando em quando conseguiria libertar-se daquela vida. Não queria voltar para a casa dos pais, pois isso seria um retrocesso, nem pedir-lhes ajuda financeira, o que iria contra os seus princípios. Afinal, gostava de resolver os próprios problemas sem a ajuda de ninguém.
Alguns meses depois, começou a sair com uma colega de turma e a coisa foi ficando séria. Sua namorada sabia do seu pavor por aqueles animais peçonhentos e do quão difícil era para ele conseguir matá-los. Ela mesma já tinha entrado na peleja algumas vezes. Decidiram morar juntos, depois de alguns meses de namoro. Todavia, não poderia ser ali. Ele ansiava com todas as forças deixar aquele local, e essa parecia ser a oportunidade ideal. Após um período de buscas, finalmente encontraram o imóvel ideal: uma pequena casa (pequena, mas bem maior do que a atual) no mesmo bairro, ainda mais próxima do trabalho e da faculdade. Parecia um sonho transformando-se em realidade.
Realizaram a mudança rapidamente. No dia seguinte, ao chegar do trabalho, é recebido pela namorada, que estava estranhamente séria. Ela diz:
– Oi, amor. Senta um pouquinho aqui, não se assuste, nem vá ao banheiro agora. Ele pergunta, meio espantado, sem entender nada: – O que está acontecendo?
– Não é nada.
– Se não é nada, então não há problema se eu for até o banheiro.
– Bem, já que você insiste...
Ele se dirige ao banheiro. A porta está aberta e a lâmpada, acesa. Assim que entra, rapidamente antes de desmaiar, ele vê a suma de todos os seus medos, o seu nêmesis implacável: passeando calmamente sobre o vaso, como que esperando por ele para lhe dar as boas-vindas, um escorpião.

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quinta-feira, 5 de maio de 2011

1 mês online

Hoje o Umas palavras aí completa seu primeiro mês. Quando decidi criá-lo, no dia 05 de abril, estava muito animado, mas não imaginava que ele ainda estaria online um mês depois. Para comemorar o, assim chamado, aniversário do blog, compartilho com vocês um microconto, de inspiração pascal, que escrevi na semana passada. Espero que gostem e até a próxima.

Uma história de Páscoa

Saiu de casa bastante cedo e apressado no primeiro dia, nem chegou a tomar café. Tinha de ser bem rápido para chegar ao supermercado e não perder a compra dos seus ovos de chocolate preferidos. A Páscoa estava se aproximando e tinha uma lista grande de encomendas: a esposa, as filhas, os sobrinhos, os filhos dos primos, enfim, toda a família estava dependendo dele para ter a sua Feliz Páscoa... Por isso, a pressa. Por isso, também, o esquecimento. Saiu tão apressado de casa naquele dia que não se lembrou de que antes de desistir do café da manhã, o estava preparando, inclusive com o fogão ligado. Só lembrou-se disso, quando já estava no carro, a dois quarteirões do supermercado. Lembrou também, nesse exato momento, de que não levara o celular e não tinha como entrar em contato com a família. Deu meia-volta, chegando rapidamente em casa, a tempo de evitar uma tragédia. Mas aí já estava irritado demais para retornar ao supermercado. Tomou café e foi trabalhar. Decidiu tentar comprar os chocolates no dia seguinte.
No segundo dia, também saiu de casa bem cedo. Dessa vez, porém, lembrou-se de tudo, do café, do celular etc. Durante todo o trajeto, ficou pensando em quanto chocolate iria comprar e, principalmente, comer. Enquanto se deliciava com esse pensamento, foi surpreendido pelo estouro de um pneu, a dois quarteirões do supermercado! Ficou alguns minutos sem acreditar no ocorrido. Teria de trocar o pneu sozinho, uma tarefa que até então lhe era inédita: nunca antes precisara realizá-la. Com muito custo, conseguiu tal proeza. Estava, entretanto, muito atrasado para o trabalho e precisou adiar a compra uma vez mais.
No terceiro dia, decidira ir de táxi ao supermercado para não ter de se preocupar mais com uma eventualidade semelhante à da véspera. Além do mais, devido à correria do dia anterior e de uma forte chuva durante a noite, não dispusera de tempo para providenciar outro estepe para o carro. Acordou cedo – o que já estava se tornando de praxe –, pegou o táxi no ponto que ficava próximo à sua casa e se dirigiu ao supermercado. Contudo, não levara em consideração a chuva da noite anterior: por causa dos alagamentos noturnos, todo o tráfego das ruas e avenidas próximas foi desviado justamente para a avenida em que se localizava o supermercado, causando um grande congestionamento de veículos. Ele logo percebeu que não adiantava insistir naquela ideia. Então, adiou uma terceira vez a compra dos chocolates. “Quem sabe ao final do expediente eu consiga chegar ao supermercado”, pensava consigo. Aquele dia, no entanto, foi bem longo: duas reuniões de emergência, além de todo o trabalho habitual. Assim, não recusou quando um colega lhe ofereceu uma carona para casa. “Amanhã tem de dar certo. Não aguento mais chegar em casa de mãos vazias e ouvir toda aquela cobrança”.
No quarto dia não houve problema de esquecimento, nem com o pneu, nem o trânsito, muito menos com a chuva. Saiu de casa cedo, mais uma vez. Dirigiu tranquilamente pelas avenidas quase sem tráfego, especialmente a do supermercado, o que era no mínimo incomum. “Talvez muita gente tenha evitado dirigir por aqui, para não ser pega em um congestionamento como o de ontem”, pensou. Chegou então rapidamente ao supermercado, não gastando mais do que 10 minutos em um trajeto que normalmente consumiria uns 25. Ao aproximar-se da entrada do estacionamento, porém, percebeu o motivo de toda aquela calmaria: era feriado e o supermercado estava fechado...


P.S.: Gostou? Detestou? Comente! Pode ser aqui (alguns leitores reclamaram que é um pouco complicado postar um comentário no blog) ou no Facebook, ou no Orkut.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Uma dica aí

Boa noite pessoal!

Depois de mais de uma semana sem postar nada (culpa do feriado prolongado e da semana agitada que veio em seguida), aqui estou eu (metaforicamente falando) de novo. Confesso que já estava com saudades de compartilhar (essa palavra nunca esteve tão presente no meu vocabulário como está agora) minhas idiossincrasias (por assim dizer) com vocês. Esta semana não tenho nada de muito interessante para postar. Por isso, vou postar hoje uma dica básica de português, uma pequena mudança fruto do novo (se que é ainda se pode chamá-lo assim) acordo ortográfico. Pois bem, vamos a ela:

Os ditongos abertos éi e ói não recebem mais acento gráfico nas palavras paroxítonas. Trocando em miúdos:

  • Os ditongos abertos têm esse nome porque as vogais que os compõem são chamadas de abertas (ou, numa classificação mais fonética, médias-baixas) porque são pronunciadas com a boca mais aberta do que as vogais e e o nas palavras peixe e oito, por exemplo, que são as suas correspondentes fechadas. Essa mudança ocorreu porque os nossos amigos portugueses já não usavam o acento nessas palavras já há muito tempo, e o objetivo do acordo como um todo é de uniformizar a ortografia de todos os países que utilizam o português como língua oficial.
  • As palavras paroxítonas são aquelas cuja sílaba tônica (a sílaba pronunciada com mais intensidade) é a penúltima. Em português só podem ser sílabas tônicas a última, a penúltima ou a antepenúltima sílabas, sendo assim classificadas as palavras de acordo com a posição da sílaba tônica: oxítona (última sílaba), paroxítona (penúltima sílaba) e proparoxítona (antepenúltima sílaba).


Mas voltando aos acentos (ou perda deles):

As palavras assembléia, idéia, protéico, jóia, jibóia e heróico passa a ser escritas como assembleia, ideia, proteico, jiboia e heroico.

Porém, preste atenção: as palavras pastéis e herói, por exemplo, continuam a ser acentuadas, porque, apesar de conterem os referidos ditongos abertos, são oxítonas (sua sílaba tônica é a última).

Enfim, é isso. Fico por aqui. Pretendo voltar (ou não) com outras dicas quando estiver mais inspirado. Até!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Uma confissão...

...ou De Páscoa e de chocolates 



É... eu sabia que isso iria acontecer: que eu iria me deixar levar pelos outros, pela propaganda, pela época e iria sucumbir ao desejo... Como pude deixar que isso ocorresse? Logo eu que tento sempre ser tão racional me deixei cair desse jeito... No entanto vim aqui de cara limpa (porém com um pouquinho de acne) para confessar o meu pecado: 

Comprei um ovo de chocolate. Sim, é isso mesmo. Não estou mentindo, falo (teclo) sério! Comprei um desses ovos da moda, objetos de comerciais constantes na TV (e olha que nem vejo tanta TV assim). Mas o que seria tão grave em comprar um ovo de chocolate em plena Páscoa?

Primeiro, eu conheço o significado original da Páscoa. Não tem nada a ver com chocolate e coelhinho (não vou entrar no mérito da pregação religiosa, por não achar que aqui seja o local adequado)... 

Segundo, eu sou contra (ou pelo menos eu era, agora já não sei mais depois do chocolate... é quase uma crise existencial) a comercialização das datas comemorativas: Natal, Dia das Mães, Dia dos Pais, etc.

Terceiro... Bem, não há terceiro motivo, o que faltou foi uma maneira melhor de iniciar o parágrafo. Deixe-me então contar-lhes como aconteceu: Estava eu passeando por um grande shopping de Natal, que fica bem no meio do caminho para quem vai para a Zona Norte ou para a Zona Sul (não preciso contar qual é, não é?), quando vi aquela fila na entrada de uma loja especializada na venda de chocolates. Eu pensei: 

"Se tem uma fila desse tamanho só para poder entrar deve ser uma promoção muito boa, ou então, o produto deve ser de ótima qualidade". 

Aproximei-me, como que vítima de um tipo de efeito manada, e fiquei conversando com algumas pessoas que estavam na fila. Nisso, a fila vai andando e chega a minha vez de entrar loja. Pergunto pra mim mesmo: 

"Você vai realmente participar desse arroubo consumista?" (É claro que na hora não me vieram essas palavras bonitas, tomo aqui um pouco de liberdade criativa, mas vocês me entendem, ?)

Ao que respondo (apenas na minha mente, não pensem que eu converso sozinho): 

"Já estou aqui há quase 20 minutos, já até adicionei essas pessoas no Facebook, vou entrar, sim."

E lá se vão mais uns 20 minutos até conseguir sair de lá com a minha recompensa por aquele momento de provação: um grande e, aparentemente delicioso, ovo de chocolate. De posse do meu troféu, sigo para casa, refletindo sobre o acontecido:

"Como fui tolo! Gastar tanto dinheiro com chocolate!"

Já era tarde, porém, e Inês já estava morta (pelo menos desde o século XIV). Então não adiantava mais chorar sobre o chocolate comprado. Então decidir fazer duas coisas, a fim de conseguir a minha expiação: 1) Compartilhar com vocês a minha aflição; e 2) saborear lentamente todo aquele chocolate (o que, aliás, estou fazendo agora mesmo entre uma teclada e outra).

Feliz Páscoa (apreciem os ovos de chocolate com moderação)!

domingo, 17 de abril de 2011

A culpa é da gasolina?

Nestes dias de aumento (abusivo, por sinal) do preço da gasolina (em todo o país, mas acho que em Natal foi pior...), muitos se aproveitam para usar isso como desculpa para aumentar o preço de tudo e mais um pouco...

É claro que é esperado o aumento no preço de produtos que envolvam grandes deslocamentos, já que o principal meio de entrega de mercadorias no Brasil é o rodoviário, o que os encarece bastante. A rigor, então, tudo deveria ter aumentado de preço na mesma proporção, para compensar o aumento da gasolina (todos sabemos que é o consumidor quem – fazendo uso de mais um dito popular, o que eu particularmente gosto de fazer, pois acho digno – paga o pato). No entanto, encontramos algumas situações como as citadas a seguir:

O quilo do feijão subiu? É culpa do aumento do preço da gasolina!

O material escolar aumentou de preço? Gasolina, de novo!

Mas as coisas também podem piorar. Por exemplo:

O aluno perdeu a prova? A gasolina é a culpada!

O aluno tirou nota baixa em Matemática? Que gasolina malvada!

O Santos perdeu na Libertadores há duas semanas? Olha aí a gasolina atuando em nível continental! (mau-caráter do olho junto!)

A chuva provocou alagamentos? Foi a gasolina! (Até no clima a gasolina está influenciando?! Que pérfida!)

Agora, por favor, só não me venham dizer que foi a gasolina que provocou o terremoto, o tsunami e o desastre atômico no Japão, e que fez Bravura indômita não ganhar nenhum Oscar este ano, que eu não acredito!

– Gasolina, que estranho ser físico-metafísico és tu, capaz de alterar/governar os destinos da humanidade?!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Noivado rompido... temporariamente

Este deveria ter sido um micropost, claro que não um daqueles reduzidos a 140 caracteres, porque aí já seria demais... Meu poder de síntese, nem nos meus melhores dias, seria capaz de fazê-lo (e acabar escrevendo quatro parágrafos não é bem o que se possa chamar de micropost). Então este será apenas mais um post. Bem, a ideia me ocorreu agora há pouco quando postava algo no Facebook (algumas das coisas postadas aqui têm sua origem lá).

Se alguém se deixou levar pelo título, esclareço logo: ele é despistador. Não rompi nenhum noivado recentemente (até porque nem estou em um ainda, por enquanto). O noivado do título (ou melhor, seu rompimento) se refere à Noiva do Sol: este é um dos apelidos de Natal, minha ensolarada cidade, que hoje, preferiu romper (temporariamente, espero) esse relacionamento e tornar-se amante da chuva em um tórrido affair (se é que se pode classificá-lo assim).

Choveu hoje como não ocorria há um bom tempo, causando vários problemas (todos interligados): ruas alagadas, trânsito caótico, ônibus atrasados e lotados... enfim, um nada tranquilo dia de chuva, se você tem que trabalhar ou estudar, ou apenas sair de casa. Não me entendam mal, não sou contrário à chuva: gosto dela bastante até, especialmente pelo calor dos últimos dias, e também porque vim do interior onde a chuva (e agora estou me citando do Facebook) é mais do que bem-vinda. No entanto, mais uma vez, a chuva nos lembra de que a nossa cidade não está preparada para lidar com ela; que não pode ter um relacionamento sério e duradouro com ela, porque, se isso acontecesse a Noiva afogaria... literalmente.

É claro que também não devemos torcer para que o relacionamento entre a Cidade e o Sol seja exclusivamente monogâmico. Afinal, às vezes dar um tempo no relacionamento pode ser saudável para o casal, e um pouco de Chuva também pode ajudar a acender (acho que, nesse caso, a palavra mais adequada seria desacender) as coisas entre os noivos... E vocês, o que acham?

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um palavra aí com borogodó

Hoje li em uma revista semanal que a palavra borogodó estava dicionarizada e resolvi checar a informação. É isso mesmo! O dicionário Houaiss assim a define: "1. atrativo pessoal irresistível; 2. afeto, carinho". Interessante também é o exemplo apresentado: "Com todo aquele borogodó, ele está sempre rodeado de mulheres".

Com o exemplo, fica claro o tipo de contexto social em que a palavra é usada. Afinal, quem não gostaria de ter um borogodó para chamar de seu!? Aliás, se existe uma palavra que tem borogodó é a própria. Talvez essa expressividade da palavra se deva à sua soronidade: é formada apenas por consoantes vozeadas (que exigem vibração das cordas vocais durante sua articulação, além de apresentar três consoantes oclusivas, que envolvem a obstrução total da passagem da corrente de ar durante sua produção... ops!, meu propósito aqui não é dar aula de fonética) o que lhe conferiria uma pronúncia poderosa, que chame a atenção alheia. Seria ela também uma onomatopeia? Quem sabe...

O que mais me chamou atenção no episódio, no entanto, não foi o uso da palavra em uma revista de grande circulação nacional (não vou divulgar o nome da revista, porque não estou recebendo nenhum por fora!), mas a postura, vamos chamá-la assim, liberal do dicionário. Um dicionário, ao contrário do que alguns possam pensar, não é um baú de palavras, com a função de preservar-lhes a pureza e conservá-las por toda a eternidade. É (e não sei se estou muito reducionista nesta definição) um modo de registrar as palavras que são usadas na língua.

É claro que eu seria ingênuo se acreditasse que a concepção de língua com a qual trabalham os lexicógrafos (os sujeitos que produzem os dicionários) está inteiramente de acordo com as mais modernas teorias linguísticas a respeito do que é o do que não é a língua. Porém, esses parecem ser bem mais flexíveis do que os gramáticos tradicionais e sua visão engessada de língua. Enfim, não me deterei nessa discussão a essas horas da noite. O corpo reclama descanso...

O que quis mostar com esse post (muito provavelmente sem pé nem cabeça) foi a minha admiração pelo uso de uma palavra recente na língua em um grande veículo de comunicação, ainda mais quando sei que este é patrulhado de perto pelos puristas da língua e, na maioria das vezes, adota uma postura em concordância com eles. Bem, estou escrevendo muita besteira? Julguem vocês mesmos. Até...

Some certain words

This is my first post in English ever (at least here).That’s why it will be a little bit short, without many words, just some… Its title is one attempt to translate the blog’s name. Of course, I know the literal translation would be impossible, because the word AÍ on it (the blog’s name in Portuguese) is developing a new function in Portuguese language (see the post A propósito do título below), and I’m not so sure if the translation is really correct…  Anyway, I decided to post it for two reasons:
In the first place, when you study a new language, it is extremely important practicing it in the four communicative abilities: reading, listening, writing and speaking. Here is the place of writing (correctly or incorrectly) and I’ve not been writing anything in English for a while.
The second reason is that last Saturday I would have my weekly English class and I couldn’t attend it: I had to travel to the countryside earlier than I use to, in order to do a favor for my mom (involving buying chocolate in the Alecrim and…  I won’t detail here all I’ve done there).
Well, that’s it. I told you this post would be short. I have had nothing important to tell you in English yet. Furthermore, I don’t know if all of my readers (few but constant, I hope so) read in English.
So, see you!
P.S.: If whoever wants to comment, correcting me or whatever, feel free to do so… in a polite way, of course.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um romance de cavalaria às avessas

Por sugestão de Thaís Cordeiro (colega das aulas de alemão), no Facebook, informo, a quem interessar possa (e a quem não interessar também) que terminei hoje a leitura de O cavaleiro inexistente, de Italo Calvino, iniciada na terça-feira.



Foi quase uma leitura clandestina, realizada nos pontos de ônibus (peraí, ponto de ônibus não faz parte do meu dialeto: é parada de ônibus mesmo!), dentro dos referidos veículos e também na sala de espera de um consultório médico. Tudo isso para que as minhas leituras acadêmicas (extremamente necessárias ao meu doutorado) não o soubessem. Até porque ler um texto teórico em inglês dentro de um ônibus sacolejante pelas não tão bem asfaltadas ruas de Natal pode resultar em uma tarefa ingrata e quase nada produtiva.

Pois bem, voltando ao livro: este é apresentado em sua contracapa como "um romance de cavalaria às avessas" (gostei tanto dessa expressão que resolvi utilizá-la para dar título ao post), e o é com certeza. Ele conta, com um humor ora sutil, ora irônico e sarcástico, a inusitada  história (talvez inusitada seja um eufemismo, pois na mesma contracapa, aparece o adjetivo bizarro para se referir a ela) de Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura, cavaleiro de Selimpia Citeriore e Fez (ufa!, que nome comprido), o mais fiel, dedicado, destemido, metódico, conhecedor de todo o código de cavalaria e das regras e costumes da guerra, detentor da mais brilhante e bem-cuidada armadura de todo o exército do imperador Carlos Magno. Porém, com um grave e talvez imperdoável (ou não) defeito: não existir. Era apenas uma armadura vazia por dentro, mas cheia de uma vontade férrea capaz de tornar aquela armadura o mais fiel, dedicado... ops, já disse isso.

O livro é narrado por uma religiosa (ou pelo menos é o que pensamos durante quase toda a história), a irmã Teodora, a quem foi designada essa tarefa como penitência pela madre superiora. Ela nos conta que o inexistente cavaleiro Agilulfo tornou-se cavaleiro por defender a virgindade uma donzela. No entanto, esse feito é contestado por um suposto filho dela, o que leva o nosso herói em busca de uma virgindade perdida quinze anos antes (a fim de poder continuar sendo paladino do exército franco, ostentando todos os títulos que havia conquistado a partir desse feito heroico). Devo mencionar que essa jornada de Agilulfo constitui um verdadeiro alívio para o exército de Carlos Magno, que mal consegue suportar o cavaleiro com sua arrogância e pedantismo, arrotando conhecimentos e leis e regras de cavalaria e de guerra por onde passava, e desmentindo os "grandes" feitos dos paladinos do exército com sua memória infálivel.

Cumpre dizer que o cavaleiro não parte sozinho em sua busca. É acompanhado por Gurdulu, seu louco escudeiro; e seguido por Bradamante, a donzela guerreira, perdidamente apaixonada por ele; e por Rambaldo, jovem guerreiro que, no início da história, entra na guerra para vingar a morte de seu pai, pelas mãos do emir Isoarre, do exército sarraceno, mas, tão logo a vingança é consumada, encontra um motivo para continuar guerreando, no amor não correspondido por Bradamante.

A fim de não estragar a história (revelando spoilers) para quem ainda não teve o prazer de desfrutar dessa curta, porém ótima narrativa, não revelarei se a jornada de Agilulfo foi ou não bem-sucedida, se ele conseguiu ou não reaver seu título de cavaleiro, se Bradamente conseguiu ter seu amor correspondido ou se o pobre Rambaldo teve sucesso em sua busca amorosa. Resta-me, unicamente, recomendar a leitura, certamente bastante prazerosa, desta obra, considerada (pelo menos por mim) um dos grandes clássicos da literatura mundial no século XX (acho que talvez tenha sido um tanto quanto bajulador, mas é porque realmente gostei do livro).

Antes de mais nada, cuidado com os sabichões

Olá,

Mais um post do Sobre palavras. Este destaca uma das (muitas) idiossincrasias do nosso idioma. É interessante a postura do colunista em relação à língua, até aqui, aparentemente, (quanta intercalação!) liberal (é claro que eu também posso estar enganado). Bem, julguem vocês mesmos.


Antes de mais nada, cuidado com os sabichões

Do googol ao Google

Olá a todos,

De vez em quando (sempre que achar interessante, e os posts podem realmente sê-lo para aqueles interessados, como eu, em aspectos relacionados com o uso da língua), compartilharei aqui alguns posts do blog Sobre palavras, de Sérgio Rodrigues, colunista de Veja.com. Espero que gostem.

Ah! É só clicar no link abaixo: 


Do googol ao Google

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A propósito do título

Olá a todos,

Neste segundo post, atendendo a pedidos de ninguém, resolvi tentar explicar, de maneira sucinta (ou não), o título do blog: Umas palavras aí. Na verdade, é uma homenagem ao meu objeto de estudo desde o mestrado. Trata-se de uma função do AÍ que eu venho chamando de marcador de especificidade de sintagmas nominais indefinidos, ufa... Mas pra que um palavrão desse tamanho para uma palavrinha tão pequena, de apenas duas letras?

Calma, que eu explico.

Em primeiro lugar, é importante dizer que sigo uma visão de língua dinâmica, sujeita a variações e mudanças, lentas, mas constantes. Essa concepção não considera língua apenas o que está prescrito nas gramáticas, mas tudo o que é falado e escrito por todos os seus usuários.

Assim, se a língua é dinâmica, é comum certas palavras da língua passarem a desempenhar novas funções. É o que ocorre com AÍ. Esse adverbiozinho (e esse zinho expressa afetividade, não depreciação) é o que costumamos chamar em Linguística Funcional (a teoria que sigo) de palavra multifuncional. No português brasileiro, esse item linguístico costuma desempenhar, entre outras, as seguintes funções:

1) Advérbio de lugar: sua função primeira e a única descrita nas gramáticas tradicionais.

Ex.: Falei com um menino AÍ (nesse lugar).* 

2) Conector: função bastante comum na fala e talvez a mais frequente desempenhada por esse item. Atua ligando duas ou mais porções de discurso (já que a fala não é comumente dividida em orações e períodos como a escrita).

Ex.: Encontrei com Maria na rua, AÍ ela me chamou para ir ao shopping, AÍ decidimos assistir um filme, AÍ chegamos no cinema e tinha uma fila enorme lá...

3) Marcador de especificidade ou advérbio pronominal: nessa função, AÍ atua como uma espécie de pronome indefinido como CERTO, geralmente acompanhando um substantivo antecedido por um artigo indefinido (daí a denominação sintagma nominal indefinido), indicando que o falante normalmente sabe alguma informação a mais a respeito do substantivo seguido de AÍ, mas que opta (por motivos os mais diversos) não detalhá-la.

Ex.: Maria disse que precisa conversar umas coisas AÍ com você.

Esse exemplo equivale mais ou menos a dizer: Maria disse que precisa conversar CERTAS coisas com você.

Então pessoal, espero que tenha conseguido esclarecer (e não complicado mais) essa função do AÍ. Se alguém se interesseu pelo tema, pode ler mais sobre ele, clicando no link abaixo.


Até a próxima e aguardem mais umas palavras aí...

* Os exemplos são criados, mas refletem outros que já ouvimos ou coletamos em corpora diversos.




terça-feira, 5 de abril de 2011

Para início de conversa

É, cá estou eu criando um blog. Antes de mais, devo me apresentar. Meu nome é Wildson Confessor. Moro em Natal, a capital mais ensolarada do Brasil, onde também estudo (faço doutorado em Linguística Aplicada - que ninguém me peça para definir o que é) e trabalho (sou revisor de textos na Editora da UFRN e professor na UnP). Gosto de ler (tenho de até por razões óbvias), ver TV (não que essa seja uma atividade dignificante), ir ao cinema (idem), conversar com os amigos (os poucos assim chamados) e também de ficar sem fazer nada (que a minha orientadora não o saiba!).

O que leva uma pessoa que, aparentemente, não tem muito tempo disponível a realizar essa empreitada internetística (acabei de inventar)? Provavelmente, porque tem algo a dizer. Algo que seja relevante, importante, interessante, intrigante até. Pode ser.

Pode ser também exatamente pelo oposto: por não ter algo propriamente interessante a dizer, mas querer dizer algo; ou, simplesmente, experimentar compartilhar algo web afora (ou a dentro, quem sabe!?).

Assim, deixando de lado os entretantos e partindo para os finalmentes (de onde veio isso, afinal?), é necessário que se diga qual será a temática do blog. Pretendo escrever sobre tudo...

...e sobre nada.

Brincadeira! Ainda não sei bem sobre o que quero escrever. Talvez observações sobre fatos do cotidiano... Talvez considerações acerca de alguns aspectos da língua portuguesa... Talvez algum exercício de escritura literária (se o autor for capaz disso)... Talvez o que der na telha... Bem, parafraseando o antigo provérbio, quem clicar lerá!

É isso... Estou oficialmente online. Voltarei sempre que tiver umas palavras aí para compartilhar com vocês.